Carta 38

Tens toda a razão em exigir que tornemos mais frequente esta nossa troca de cartas. A conversação é sobremaneira útil, porquanto se grava no espírito a pouco e pouco; os discursos preparados e pronunciados perante um auditório, se se revestem de mais aparato, carecem de familiariedade.

Digamos que a filosofia é um bom conselho: ora ninguém dá conselhos em público! Uma vez por outra pode ser necessário usar um estilo, digamos assim, oratório, quando se trata de obrigar a decidir-se alguém que está hesitante; mas quando pretendemos não incutir em alguém a vontade de aprender, mas sim transmitir ensinamentos, então é preferível recorrer a palavras mais despretensiosas, que penetram e se gravam na ideia com mais facilidade.

De fato, o que é necessário não é a abundância, mas sim a eficácia das palavras.

Devemos distribuí-las como se fossem sementes; ora uma semente, ainda que minúscula, se cai em terra favorável, multiplica as suas energias e alcança, de exígua que era, dimensões assaz consideráveis.

O mesmo sucede com a razão. À primeira vista não parece ter grande raio de ação; mas à medida que vai agindo ganha força.

As nossas palavras são breves, mas se o nosso espírito as acolher favoravelmente, elas enrijarão e florescerão.

É como te digo, a condição das nossas sentenças é semelhante à das sementes: os frutos são numerosos, as dimensões muito reduzidas!

Basta apenas, como já disse, que um espírito propício as entenda e as interiorize; se assim for, em breve esse espírito estará por sua vez a produzir muitas outras, mais numerosas mesmo do que as recebidas.

Passar Bem!

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